As metáforas segundo Charles Forceville
INTRODUÇÃO
Saudações, caros leitores. O objetivo do post desta semana é tratar dos tipos de metáfora segundo as concepções de Charles Forceville. Desse modo, esta publicação busca tratar dos seguintes assuntos: 1. A compreensão das metáforas; 2. Metáforas mono e multimodais; 3. Tipos de metáfora segundo Forceville; 4. Outros aspectos que devem ser levados em consideração.
Para isso, recorri ao texto “Pictorial and Multimodal Metaphor”, de autoria de Charles Forceville. Vejamos:
COMPREENDENDO AS METÁFORAS
Uma metáfora consiste em uma relação entre dois elementos que são convencionalmente (ou dependendo do contexto) pertencentes a categorias diferentes. Normalmente o resultado é uma sentença inverídica em um sentido de que não há possibilidade de ocorrência literal, como na sentença “ela é uma flor”.
É imperativo destacar que boas metáforas proporcionam novas perspectivas em relação às coisas que se referem, ou apresentam uma estrutura onde anteriormente não havia uma.
Cada metáfora tem duas partes, denominadas alvo (target) e fonte (source). No exemplo anteriormente apresentado, “ela é uma flor”, “ela” é o alvo e “flor” é a fonte. Os dois elementos da metáfora demandam um conjunto de inferências que levam ao entendimento da mensagem. Nesse caso, associamos a delicadeza e a beleza da flor ao indivíduo alvo, logo, compreendemos que “ela” é bela e delicada como uma flor.
No que tange ao processo de interpretação da metáfora, primeiro é necessário que os dois elementos presentes na metáfora sejam identificados. Em seguida, que o alvo e a fonte sejam reconhecidos. Depois, é preciso que um mapeamento, ou um processo de associação entre os elementos, seja feito. Isso pode envolver valores, atitudes, emoções, entre outros aspectos.
Esse processo pode parecer simples, mas é necessário lembrar que nem todas as metáforas são escritas e têm as construções gramaticais para auxiliar no processo de interpretação, haja vista que metáforas podem ser tanto mono como multimodais.
METÁFORAS MONO E MULTIMODAIS
As metáforas já têm sido debatidas há muito tempo. A ideia de que os seres humanos pensam de forma metafórica ou sistematizam metaforicamente fenômenos complexos e abstratos a fim de tornar o entendimento mais prático é uma perspectiva que foi apresentada, por exemplo, por Lakoff e Johnson (1980). No entanto, com os avanços dos estudos das metáforas, novas pesquisas apontaram que as metáforas não se constroem apenas com base no verbal, mas por elementos não verbais também.
Algumas metáforas podem ser reforçadas, criadas ou contestadas pela linguagem não verbal gestual, por exemplo. Elas também podem ocorrer por meio de informações visuais. Essas duas perspectivas rejeitam a ideia de que metáforas podem ser manifestadas unicamente mediante a linguagem verbal escrita.
Em decorrência disso, tornou-se muito claro a existência de metáforas multimodais, isto é, que adotam duas ou mais linguagens, ou modos, simultaneamente. Dessa forma, as metáforas monomodais são aquelas que têm predominância de uma modalidade só, enquanto as multimodais contemplam modalidades diversas. A respeito disso, Charles Forceville aponta quatro subtipos principais de metáforas, sendo elas: a metáfora contextual, a metáfora híbrida, a símile e a metáfora verbo-visual.
TIPOS DE METÁFORA SEGUNDO CHARLES FORCEVILLE
METÁFORA CONTEXTUAL
De início, temos a metáfora contextual. A ideia desse tipo de metáfora é que determinado objeto passa a representar uma outra coisa (a fonte), mas esse entendimento depende do contexto. Como exemplo, vejamos a Imagem 1.
Imagem 1: Exemplo de metáfora contextual
Fonte: https://d1ih8jugeo2m5m.cloudfront.net/2022/10/propaganda-de-produto3.jpg
No exemplo apresentado na Imagem 1, podemos observar dois copos de café da marca Starbucks, sob a palavra “Recharge” (Recarregar). Nesse sentido, entendemos que o café é o alvo e a energia é a fonte. Logo, podemos inferir que a metáfora da imagem seria algo como “Café é energia”, incitando os consumidores a comprar o café como uma forma de repor as energias.
METÁFORA HÍBRIDA
Nas metáforas híbridas, por sua vez, o alvo da metáfora e a fonte estão inter relacionados. É possível reconhecer os dois, mas não é possível separá-los, já que sua relação é o que forma o “todo” da metáfora. Para que fique claro, vejamos a Imagem 2.
Imagem 2: Exemplo de metáfora híbrida
Fonte: https://temporalcerebral.com.br/wp-content/uploads/2017/07/melhores-campanhas-criativas-2017-doacao-de-orgaos.jpg
Na imagem 2, conseguimos identificar sacos de lixo no formato de um pulmão e de um coração, com o enunciado “Pare de desperdiçar vida. Doe órgãos” logo abaixo. Os alvos são os órgãos e a fonte é o lixo. A metáfora é construída mediante uma relação de negação, do tipo “Órgãos não são lixo”. A hibridização do formato dos órgãos com a imagem do lixo é o fator que proporciona a construção da metáfora.
SÍMILE
No caso das símiles, a metáfora é construída por meio da comparação entre o alvo da metáfora e uma fonte, podendo estar relacionados de alguma forma. Essa comparação e relação pode ser construída por intermédio de justaposição entre os elementos, diagramação ou postura similar, cores iguais, destoando das demais cores como uma forma de chamar atenção, o estilo ou a iluminação pode ser a mesma, entre outros fatores.
Imagem 3: Exemplo de símile
Fonte: https://asset-cdn.campaignbrief.com/wp-content/uploads/2015/07/04224928/5.jpg
No exemplo 3, a metáfora símile é construída via uma comparação entre o carro e os cavalos. Compreendemos que a estrutura da metáfora seria: “O carro é um cavalo”, no sentido de velocidade. Logo, o cavalo é a fonte e o carro é o alvo.
METÁFORA VERBO-IMAGÉTICA
No que tange as metáforas verbo-imagéticas, elas são composições multimodais que demandam tanto o visual quanto o escrito para o seu entendimento. Nesse caso, na ausência de informações contextuais, o alvo torna-se o elemento visual, enquanto o verbal configura-se como fonte. Portanto, a combinação de palavras e imagens levam ao entendimento da metáfora. Vejamos a Imagem 4.
Imagem 4: Exemplo de metáfora verbo-imagética
Fonte: https://marcas.meioemensagem.com.br/wp-content/uploads/2015/08/2015_Abra-a-felicidade_MUBs423x302.jpg
No caso apresentado na Imagem 4, podemos observar uma garrafa do refrigerante Coca-cola, com o enunciado “Abra a felicidade em 2015”, localizada logo ao lado. Nesse contexto, o alvo é o refrigerante Coca-cola, enquanto a fonte é a felicidade. Portanto, a metáfora presente na imagem nos leva ao entendimento de que o refrigerante da marca é equivalente ao estado de felicidade.
OUTROS ASPECTOS A SEREM LEVADOS EM CONSIDERAÇÃO QUANDO O ASSUNTO É METÁFORA
GÊNERO
O gênero é um fator determinante na construção e interpretação das metáforas. Ele é o primeiro que identificamos quando nos deparamos com um texto, discurso ou representação e logo resgatamos um conjunto de conhecimentos relacionados a ele, bem como expectativas que norteiam o nosso entendimento.
METÁFORAS CRIATIVAS VS. METÁFORAS ESTRUTURAIS
As metáforas criativas são as que proporcionam novas perspectivas em relação ao alvo. Os exemplos anteriormente apresentados são de metáforas criativas. Em contrapartida, as metáforas estruturais estabelecem correspondência mediante uma ideia de entendimento do tipo “uma coisa em termos de outra”. Por exemplo, “o bom é para cima e o ruim é para baixo”.
É importante salientar que não existe uma divisão entre metáforas criativas e metáforas estruturais. O que há é um continuum em que metáforas estruturais podem adotar características de criativas, dependendo do contexto, e as criativas usualmente estão enraizadas em metáforas estruturais.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante do apresentado, compreendemos que as modalidades incorporadas na construção das metáforas, de fato, alteram as suas significações possíveis. Nessa conjuntura, os estudos de multimodalidade contribuem para as investigações, interpretações e entendimentos desses fenômenos linguísticos. Desse modo, concluímos que as metáforas são mais que as concepções tradicionais de realização linguística verbal, haja vista a existência de um grupo diverso de outras manifestações que contemplam a linguagem não verbal, especialmente a imagética.
REFERÊNCIAS:
FORCEVILLE, Charles. Pictorial and multimodal metaphor. In: KLUG, Nina Maria; STOCKL, Hartmut. The language in multimodal contexts handbook. Berlin: De Gruyter, 2016. p. 1-21. Disponível em: https://www.academia.edu/12925438/Pictorial_and_multimodal_metaphor_In_Nina_Maria_Klug_and_Hartmut_St%C3%B6ckl_eds_Handbuch_Sprache_im_multimodalen_Kontext_The_Language_in_Multimodal_Contexts_Handbook_. Acesso em: 31 maio 2025.
LAKOFF, George; JOHNSON, Mark. Metaphors we live by. Chicago: The University of Chicago Press, 1980. Disponível em: https://ceulearning.ceu.edu/pluginfile.php/100337/mod_forum/attachment/9319/Metaphors%20We%20Live%20By.pdf. Acesso em: 1 jun. 2025.
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