A codificação e a decodificação de mensagens sob os olhares de Stuart Hall
INTRODUÇÃO
Saudações, caros leitores. O objetivo do post desta semana é tratar do processo de recepção informacional dos indivíduos mediante as perspectivas de codificação e decodificação de Stuart Hall. Desse modo, esta publicação busca tratar dos seguintes assuntos: 1. Quem foi Stuart Hall?; 2. O processo de codificação e decodificação; 3. A leitura dominante, a leitura negociada e a leitura de oposição.
Para isso, recorri ao texto “Stuart Hall’s Encoding and Decoding”, disponível em: https://padlet.com/giseldacostas/letramentos-e-pr-ticas-multimodais-ezy52z5j6sm9/wish/MbejW1XRxEGxZNkG. Vejamos:
QUEM FOI STUART HALL?
Imagem 1: Stuart Hall
Fonte: https://media.newyorker.com/photos/596d005c5981a5237ad9025b/4:3/w_3271,h_2453,c_limit/Hsu-Stuart-Hall-and-the-Rise-of-Cultural-Studies.jpg
Stuart Hall nasceu em 1932 em uma família de classe média jamaicana. Ele cresceu em Kingston e, após a sua formatura na faculdade, passou a escrever artigos e livros sobre como as pessoas interagem entre si e com a mídia. Eventualmente, Hall tornou-se um dos principais teóricos da cultura britânico.
Stuart Hall cresceu sozinho e isolado, fator que influenciou o desenvolvimento de suas teorias, o levando a escrever especialmente sobre raça, preconceito, mídia, sociedade e cultura, bem como sobre hegemonia. A ideia de hegemonia diz respeito à dominação cultural, política, econômica, militar de um grupo de pessoas em relação a outro, cujo propósito principal seria promover estruturas que as pessoas não sobreviveriam sem (Haugaard, 2006). Um exemplo contemporâneo seria a hegemonia cultural dos Estados Unidos, que tornou o idioma do país a “língua globalizada” e tornou as produções culturais de outros países, como as cinematográficas, menos valorizadas.
Para Hall, a hegemonia trabalha com a manipulação das crianças e valores de modo a tornar necessário que os “de fora” se encaixem nos padrões estabelecidos por uma determinada elite. Nesse sentido, os estudos de Hall tratam do fato de ideologias encapsuladas na linguagem contribuírem para a manutenção de uma hegemonia por meio de mensagens.
Stuart Hall foi fortemente influenciado pela teoria da recepção de Hans-Robert Jauss. Com base na teoria de Jauss, o autor escreveu uma abordagem nova e editada, denominada teoria da codificação e decodificação. Diferente das ideias prévias, incluindo a de Jauss, Hall não considerava a linguagem e a comunicação como uma troca simples. Para Jauss, a comunicação consistia no simples ato de um emissor transmitir uma mensagem a um receptor, sendo necessário apenas que os interactantes tivessem os mesmos conhecimentos culturais. No entanto, caso os membros desse processo comunicacional não compartilhassem dos mesmo conhecimentos, eles teriam perspectivas diferentes da mesma mensagem, isto é, os leitores ou espectadores teriam compreensões diferentes da objetivada pelo autor.
Devido às suas vivências crescendo em uma colônia britânica, é provável que Hall experienciou as falhas de decodificação causadas por experiências pessoais. Isso foi aspecto fundamental para a construção do seu artigo “Encoding and Decoding in the Television Discourse”, responsável por difundir suas ideias relacionadas a codificação e decodificação.
CODIFICAÇÃO E DECODIFICAÇÃO EM STUART HALL
No artigo intitulado “Encoding and Decoding in the Television Discourse”, Stuart Hall, ao tratar da relação entre emissor e receptor, defende que há vários passos presentes na atividade de enviar e receber determinada mensagem. No artigo, o autor trata do discurso televisivo, ressaltando que o público também desempenha um papel na compreensão bem sucedida de uma mensagem transmitida.
A inserção do papel do receptor, nesse caso o público, como parte da construção de entendimento da mensagem configurou uma novidade nas teorias da área, que normalmente não atribuem esse papel a estes membros do processo comunicacional. Isso propiciou o entendimento de que é possível a audiência modificar os significados de uma mensagem transmitida de acordo com o contexto de cada um.
Desse modo, Hall destacou os processos de codificação e decodificação da mensagem, defendendo que o que a mensagem codificada pelo autor nem sempre é a mensagem que vai ser decodificada pela audiência, no que tange ao significado.
A codificação é caracterizada como o envio da mensagem para que outra pessoa possa compreender. Para isso, é importante que o autor da mensagem pense na sua audiência e como a mensagem será recebida e interpretada. O emissor pode utilizar de recursos diversos para enviar a mensagem, seja linguagem verbal ou não verbal. É importante destacar que as ideologias do autor estarão presentes na mensagem, podendo resultar em entendimentos diversos da mensagem.
Quanto à decodificação, ela é configurada como a efetividade no recebimento e compreensão da mensagem. Por exemplo, se uma pessoa chega atrasada em um compromisso, o que se configura como linguagem não verbal, o sujeito que estava espetando pode entender que ela não queria estar lá. Para Hall, o processo de decodificação era de importância ímpar. Uma vez que a mensagem é enviada, os receptores devem atribuir significados aos sinais presentes na mensagem, seja ela entre dois sujeitos apenas ou um sujeito para uma plateia.
Imagem 2: Encoding and decoding
Fonte: https://commcivicyouth.org/wp-content/uploads/2023/07/058a7-encoding_decoding2bstuart2bhall.jpg
Por ter sido uma teoria com fortes influências da mídia televisiva, Hall apresentou quatro estágios do processo comunicacional que estão relacionados com a relação autor-mídia-receptor. O primeiro estágio é o da produção, similar ao da codificação; O segundo, é o estágio da circulação, próximo a ideia de enviar uma mensagem; O terceiro, diz respeito ao palco, que avoca a ideia de que a audiência deve fazer algo com a mensagem que lhes é transmitida; O quarto e último estágio é o da reprodução, que ocorre quando a audiência já interpretou a mensagem.
Diante disso, levando em consideração que as vivências cotidianas estão imersas em textos verbais e não verbais que objetivam despertar reações nos receptores, Hall destaca que há três posições que os espectadores podem adotar diante de uma mensagem. O autor salienta que as mensagens são codificadas com um significado, mas os sujeitos apresentam formas diferentes de interagir com o que lhes é apresentado. Nesse contexto, o receptor pode apresentar uma leitura dominante, uma leitura negociada ou uma leitura de oposição.
A LEITURA DOMINANTE, A LEITURA NEGOCIADA E A LEITURA DE OPOSIÇÃO
Imagem 3: Dominant, negotiated, oppositional reading
Fonte: https://abdullahimedia.wordpress.com/wp-content/uploads/2013/09/4aaba-receptiontheory.png?w=775
Em uma leitura dominante, o significado pretendido pelo autor da mensagem é recebido e compreendido com sucesso pelo leitor. Para isso, a mensagem deve ser clara, contribuindo para que não haja um mal-entendido. Como exemplo, vejamos a Imagem 4.
Imagem 4: Leitura dominante
Fonte: https://x.com/OficialOliverL/status/1894452067046940688?t=diVss0qrS9yJ-bYFOEcxaA&s=19
No exemplo apresentado, o receptor compreende a mensagem transmitida pelo emissor, deixando claro, ainda, que concorda, apesar de não elaborar os motivos pelos quais concorda.
No que diz respeito à leitura negociada, ocorre uma mistura de aceitação e rejeição. Os receptores da mensagem compreendem o que lhes é transmitido, mas possuem suas próprias opiniões quanto ao assunto em questão, podendo ser convergentes ou divergentes. A título de ilustração, vejamos a Imagem 5.
Imagem 5: Leitura negociada
Fonte: https://x.com/WOsh2020/status/1729985038698037536?t=OGeyM6ociASqcxB_JIc_Hg&s=19
No exemplo apresentado na Imagem 5, o receptor da publicação concorda com o que é dito, mas apresenta uma posição pessoal em relação ao assunto.
Por fim, Hall aponta a leitura de oposição, cuja audiência compreende a mensagem transmitida pelo autor, mas rejeita completamente. Nesse caso, a audiência muda e adiciona um significado diferente à mensagem do autor. Em muitos casos isso ocorre pois o significado pretendido pelo autor não está de acordo com a realidade do público, a ideia não reflete a estrutura social, é controverso ou as pessoas apenas discordam. Para um melhor entendimento, vejamos a situação hipotética presente na Imagem 6.
Imagem 6: Leitura de oposição
Fonte: https://pbs.twimg.com/media/FCY66CsVgAU-B6A.jpg
Na Imagem 6, é possível observar uma explicação não intencional de como a leitura de oposição ocorre. Em tradução livre, a publicação diz: “Twitter é o único lugar onde sentenças bem articuladas são compreendidas de forma errada. Você pode dizer ‘Eu gosto de panquecas’ e alguém vai responder com ‘Então você odeia waffles?’”. Nesse caso, a audiência compreende o que é transmitido na mensagem dos waffles, mas adiciona um novo significado ao enunciado, propondo que se o autor gosta de um, automaticamente odeia o outro.
Portanto, é possível compreender que, de acordo com a teoria de Stuart Hall, a comunicação é muito mais complexa do que aparenta, levando em conta aspectos além da simples transmissão e recepção de uma mensagem, haja vista que considera fatores sociais, culturais, entre outros.
REFERÊNCIAS:
HALL, Stuart. Encoding and decoding in the television discourse. Discussion Paper. University of Birmingham, Birmingham. p. 1-19, 1973. Disponível em: http://epapers.bham.ac.uk/2962/. Acesso em: 16 maio 2025.
HAUGAARD, Mark; LENTNER, Howard; Hegemony and power: consensus and coercion in contemporary politics. Lanham: Lexington Books, 2006.
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