Linguística, cérebro e um horizonte de pesquisas possíveis
INTRODUÇÃO
Saudações, caros leitores. Dando início às atividades deste blog, lhes apresento um breve passeio pelos campos multiformes da Linguística. Com isso, esta publicação busca tratar dos seguintes assuntos: 1. perspectivas basilares para o entendimento dos estudos linguísticos; 2. o papel do cérebro nas atividades comunicativas; 3. uma contextualização relacionada à localização de minha pesquisa de mestrado nos campos vastos e diversificados da linguística.
Para isso, utilizei como base os textos de Cunha, Costa e Martelotta (2011), Fiorin (2013) e Saussure (2006) ao versar sobre o objeto de estudo da linguística e a relação língua/linguagem; e a Guyton (1993) no que se refere ao papel do cérebro nas atividades comunicativas. Vejamos:
AFINAL DE CONTAS, O QUE É LINGUÍSTICA?
Fonte: https://www.provasdiscursivas.com.br/y/765/linguistica-e1571069003561.jpg
A comunicação é parte essencial e indispensável das vivências em sociedade. Desde antes do estabelecimento convencional de uma língua, os sujeitos já exerciam a troca ou registro de informações à sua maneira. Eventualmente, a comunicação se transforma e novas formas de estabelecer a comunicação por meio das línguas emergem, atendendo às necessidades de grupos específicos. É importante destacar que as línguas não são inerentes aos seres humanos. Nenhum indivíduo nasce dotado do dom da fala. Essa característica é, portanto, adquirida com o tempo, através de uma atividade mimética. Por outro lado, a aptidão para a linguagem é, de fato, uma predisposição humana (Fiorin, 2013, p. 14).
Nesse contexto, é perfeitamente compreensível que surja o questionamento “Afinal, qual a diferença entre linguagem e língua?”. A linguagem, conforme Cunha, Costa e Martelotta (2011, p. 16), é compreendida como “[...] capacidade que apenas os seres humanos possuem de se comunicar por meio de línguas". Esta, por sua vez, é caracterizada como “sistemas de signos vocais utilizado como meio de comunicação entre os membros de um grupo [...]” (Cunha; Costa; Martelotta, 2011, p. 16). Logo, a linguagem seria a habilidade essencialmente humana de manifestar uma língua natural.
Agora, é possível estabelecer uma ideia mais clara quanto ao objeto de estudo da linguística. Assim, podemos compreendê-la como o campo que estuda as manifestações da linguagem humana, tendo como objeto de estudo a língua (Saussure, 2006). A caracterização apresentada é, de fato, ampla, entretanto, adequada ao levar em conta a multiplicidade de aspectos que dizem respeito aos estudos linguísticos.
Saussure (2006) é enfático ao afirmar que a forma como os seres humanos manifestam a linguagem não passa de uma coincidência. O uso do aparelho fonador (conjunto de órgãos trabalhados para que a fala seja realizada) ocorreu com base em praticidade e comodidade. Todavia, além do aparelho fonador, é imperioso destacar o cérebro como um integrante importante do processo comunicacional.
SOBRE O CÉREBRO
O cérebro desempenha um papel importante no estabelecimento da linguagem e manifestação das línguas, especialmente na codificação ou decodificação das mensagens. Esse processo reúne o psíquico, o fisiológico e o físico, objetivando o devido estabelecimento da troca comunicacional.
Dois nomes importantes na identificação do papel desse órgão para as faculdades da linguagem foram Paul Broca e Carl Wernicke. O primeiro foi responsável por descobrir que a área do cérebro nomeada em sua homenagem é encarregada de “controlar os movimentos coordenados da laringe e da boca, para a produção da fala” (Guyton, 1993, p. 15). O segundo, por sua vez, concluiu que a área cerebral que recebe seu nome é importante para a interpretação “[...] de frases e de pensamentos, independendo de terem sido ouvidas, lidas, sentidas [...]” (Guyton, 1993, p. 16).
A título de ilustração, a imagem a seguir mostra claramente a localização das áreas de Broca e Wernicke.
Fonte: Guyton, 1993.
Ademais, o cérebro também é o foco do que Saussure (2006) chama de circuito da fala. Isto é, o processo pelo qual uma comunicação torna-se bem sucedida. Esse processo necessita de, no mínimo, dois participantes, o primeiro codifica uma mensagem em seu cérebro e externaliza através do aparelho fonador, chegando ao segundo participante. Este, em seu turno, escuta o que é dito, decodifica a mensagem em seu cérebro ao tempo que codifica a resposta, externalizando-a. Essa dinâmica de trocas permanece até o fim da comunicação.
Certamente, a comunicação não é tão linear, visto que existem outros fatores a serem levados em consideração, como indivíduos terceiros, ruídos, interrupções, entre outros. No entanto, é um exemplo claro e didático sobre como ocorre as trocas linguageiras de modo geral, reiterando o lugar essencial do cérebro no contexto da linguagem e da linguística.
A linguística, sem dúvidas, é um campo complexo. Ela envolve em seu escopo fatores físicos, fisiológicos, psíquicos, socioculturais, tecnológicos, etc., em sua composição. Dessa forma, se firma como um campo multifacetado e heterogêneo, além de inter/transdisciplinar, possibilitando um vasto horizonte de pesquisas.
ONDE A MINHA PESQUISA ESTÁ LOCALIZADA NO CAMPO DA LINGUÍSTICA?
A linguagem, de modo geral, é, de fato, uma faculdade complexa. Com suas manifestações visuais, verbais, verbo-visuais, multimodais, ela se transforma constantemente de acordo com as demandas socioculturais. A linguística, portanto, não é diferente, ela é diversa e complexa, compreendendo uma vasta quantidade de campos e possibilidades de estudo. A título de ilustração, vejamos a seguinte imagem:
Fonte: https://www.cefala.org/fonologia/imagens/img_divisoes_linguistica.jpg
Para tratar brevemente sobre os campos da linguística, temos a fonética e a fonologia, responsáveis pelo estudo dos sons produzidos na fala; a sintaxe, que é responsável por estudos a nível frasal; a semântica, que está relacionada ao estudo dos significados e sentidos dos termos nos enunciados; a pragmática, que se encarrega do estudo dos usos da linguagem, isto é, leva em consideração sua aplicação; a sociolinguística, área que estuda as relações entre a língua e a sociedade; a linguística aplicada, que trata de estudos transdisciplinares que buscam resolver conflitos e problemas relacionados à linguagem no cotidiano; entre outros.
Certamente, é recorrente o surgimento de novos campos de estudos baseados em diálogos inter/transdisciplinares, especialmente levando em consideração o caráter vivo da língua e o caráter multiforme da linguística. É possível citar, por exemplo, a linguística computacional, que trata das relações entre a linguagem humana e a tecnologia digital/computacional, incluindo as inteligências artificiais.
Diante disso, a pesquisa que pretendo desenvolver se encontra em uma intersecção entre a linguística aplicada e a linguística computacional. Ela é intitulada: "Letramento digital na cultura contemporânea: o uso das ferramentas de inteligência artificial Gemini e ChatGPT para o planejamento de aulas de língua portuguesa". Ela é um reflexo de um horizonte inter/transdisciplinar dos estudos linguísticos, especialmente da linguística aplicada, objetivando a construção de conhecimentos teóricos e práticos na área dos letramentos digitais, linguística computacional e relacionados ao uso de IAs no processo educacional.
REFERÊNCIAS
CUNHA, Angélica Furtado da; COSTA, Marcos Antonio; MARTELOTTA, Mário Eduardo. Linguística e linguagem. In: MARTELOTTA, Mário Eduardo (org.). Manual de linguística. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2011. cap. 1, p. 13- 30.
FIORIN, José Luiz. A linguagem humana: do mito à ciência. In: FIORIN, José Luiz (org.). Linguística? Que é isso?. São Paulo: Contexto, 2013. cap. 1, p. 13-43.
GUYTON, Arthur. Anatomia macroscópica do sistema nervoso: divisões básicas do encéfalo; o cérebro; o diencéfalo. In: GUYTON, Arthur. Neurociência básica: anatomia e fisiologia. Tradução: Charles Alfred Esbérard, Claudia Lúcia Caetano de Araújo. 2. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 1993. cap. 2, p. 11-23.
SAUSSURE, Ferdinand de. Curso de linguística geral. 27. ed. São Paulo: Cultrix, 2006. 278 p.
Parabéns pelo texto!
ResponderExcluirMuito bom, Anderson! Adorei as informações de neurociência
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